( SUGESTÃO DE LEITURA E REFLEXÃO NO FINAL DE SEMANA )
(Texto extraído da NET )
Como é delicioso podermos saborear uma boa leitura sem direcionamento político ou religioso – Explorando a nossa sabedoria encontramos Deus
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O“anticristo”e a luta contra o platonismo do povo
Todavia, o combate de Nietzsche não se restringe à herança socrático-platônica, mas estende-se também e sobretudo ao cristianismo.
Segundo ele, o cristianismo, espécie de versão popular do platonismo, ao transferir a esperança de felicidade do mundo terrestre concreto para o mundo celeste, constituiria uma espécie de metafísica, a qual, à luz das ideias do “além”, julgaria o mundo real como provisório, inautêntico e aparente.
Dessa forma, o cristianismo é a forma mais acabada da perversão dos instintos que caracteriza o platonismo. Ancorado em dogmas e crenças que proporcionam à consciência fraca um escape da vida, da dor e da luta, ele erige em virtudes de características passivas e negativas como a resignação, a renúncia e a submissão.
Na verdade, são os escravos e os vencidos que inventaram o além para se consolarem das misérias da vida. Idealizaram falsos valores para compensar sua incapacidade de participação nos valores dos senhores e dos fortes.
Cunharam o mito da salvação da alma porque não usufruíam de seus corpos. Forjaram a ideia de pecado porque não podiam participar das alegrias mundanas e da plena satisfação dos instintos da vida.
Imbuído dessas ideias, Nietzsche investe-se da tarefa de restaurar a vida em sua plenitude e transvalorar os valores falseados pelo cristianismo. Entre outras coisas, ele recupera um sentido esquecido da palavra“bom”.
Em latim, bonus significa também “guerreiro”, significação esta que foi obliterada pelo cristianismo.
Da mesma maneira, outros significados precisariam ser recuperados, constituindo-se uma espécie de genealogia da moral, que explicaria as origens e variações dos conceitos de bem e mal.
Para Nietzsche, os complexos que estariam por trás da moral cristã são o ressentimento, o sentimento de culpa e o ideal ascético, que converteriam a vontade de potência original em vontade de nada, em niilismo.
Desse jeito, a vida transformar-se-ia em fraqueza, a saúde em mutilação, o vigor em torpor.
É a vitória do negativo sobre o positivo, da reação sobre a ação.
Quando prevalece esse niilismo, alega Nietzsche, a vontade de potência deixa de ser criação e transforma-se em dominação.
Assim, no cristianismo, Nietzsche detecta o triunfo da moral dos escravos e dos pusilânimes.
Nessa moral tudo é invertido: os fracos são fortes, a vileza é nobreza.
O resultado é a hipocrisia e o uso de máscaras nas relações sociais.
Cabe ao sábio, ao escavar como um arqueólogo as camadas mais profundas das convenções da sociedade, denunciar a inversão dos valores e revelar que, na verdade, o bem é a vontade do mais forte, do mais capaz, do “guerreiro”.
Em outras palavras, o bem é a vontade do porta-voz de um chamado a uma contínua superação dos valores estabelecidos, do super-homem, entendida essa expressão no sentido de um ser humano que transpõe os limites do humano, é o além-do-homem.
Nesse sentido, o vôo da águia, a escalada da montanha e todas as imagens de ascensão encontráveis em Assim Falou Zaratustra representam a inversão da profundidade“cristã” e a descoberta de que ela não passa de um jogo de superfície.
Além do mais, não existe um sentido original ou legítimo por trás das palavras, pois elas próprias, antes mesmo de serem signos, já são interpretações.
O trabalho do filósofo, portanto, consiste no problema de descobrir o que é que há para ser interpretado, na medida em que tudo é interpretação, jogo, máscara.
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